Sempre é um prazer falar de Mahler,meu compositor preferido,pela sua história e música.
Neste espaço,gostaria de falar sobre a sua 2ª Sinfonia,obra que eu já tive a honra de cantar em Porto Alegre/RS,ano de 2003, com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre e Coro Sinfônico da OSPA ,sob regência de Isaac Karabchevsky.
Histórico
Mahler compôs o primeiro movimento em 10 de setembro de 1888. Em 1893 completou o Andante e o Scherzo.Em fevereiro de 1894, durante os funerais do pianista e regente Hans von Büllow, Mahler ouviu um coro de meninos cantarem o hino Auferstehen (Ressurreição), da autoria de Friedrich Klopstock. O hino impressionou tanto Mahler que ele resolveu incorporá-lo ao Finale da sinfonia que estava em preparação. Ao mesmo tempo decidiu que a Ressurreição seria o tema principal da obra.
Características
A Segunda Sinfonia é a primeira sinfonia em que Mahler usa a voz humana. Ela aparece na última parte da obra, no clímax, tal qual a Sinfonia no 9 de Beethoven. Além da influência de Beethoven, percebe-se traços de Bruckner e Wagner na composição.Apesar da origem judia, Mahler sentia fascínio pela liturgia cristã, principalmente pela crença na Ressurreição e Redenção. A Segunda Sinfonia propõe responder à pergunta: "Por que se vive?". Simbolicamente ela narra a derrota da morte e a redenção final do ser humano, após este ter passado por uma período de incertezas e agrúrias.
A Sinfonia no 2 foi escrita para uma orquestra com as seguintes composição: 4 flautas (todas alternando com 4 piccolos), 4 oboés (2 alternando com corne-inglês), 3 clarinetes (Sib, La, Do - um alternando com clarone), 2 clarinetes em Mib, 3 fagotes, 1 contrafagote, 10 trompas em fá (4 usadas fora do palco, menos no final), 8-10 trompetes em fá e dó (4 a 6 usados fora do palco, menos no final), 4 trombones, 1 tuba contrabaixo, 7 tímpanos (um fora do palco), 2 pares de pratos (um fora do palco), 2 triângulos (um fora do palco), Caixa clara, Glockenspiel, 3 sinos (Glocken, sem afinação), 2 bombos (um fora do palco), 2 tam-tams (alto e baixo), 2 harpas, órgão,quinteto de Cordas (violinos I, II, violas, cellos e baixos com corda Dó grave). Há ainda: Soprano Solo, Contralto Solo e um Coro Misto.
Os movimentos
Na sua forma final a sinfonia, cuja duração aproximada é de 80 minutos, é formada por cinco movimentos distribuídos da seguinte forma:- 'Totenfeier': Allegro maestoso. Mit durchaus ernstem und feierlichem Ausdruck (~23 minutos)
- Andante moderato. Sehr gemächlich. Nicht eilen (~10 minutos)
- In ruhig fliessender Bewegung (~10 minutos)
- 'Urlicht' . Sehr feierlich, aber schlicht (~5 minutos)
- Im Tempo des Scherzos. Wild heraus fahrend ('Aufersteh'n') (~37 minutos)
O primeiro movimento é sobre a morte, no segundo a vida é relembrada e o terceiro apresenta as dúvidas quanto à existência e ao destino. No quarto movimento o herói readquire a sua fé e a esperança. No quinto e último movimento ocorre a Ressurreição, na forma imaginada por Mahler.
Se Mahler, em toda a sua vida, tivesse escrito apenas o terceiro movimento da Ressurreição, já teria um lugar garantido na história da música. Mas há o resto, e que resto! Obra espetacular e fundamental na obra de Mahler, a Sinfonia Ressurreição se utiliza de um enorme contingente de músicos. A orquestra é ora tratada convencionalmente, ora separada em pequenos grupos de câmara, tornando-se de poderosa para rarefeita, de delicada para violenta, como se estivesse sofrendo a melhor das psicoses maníaco-depressivas.
Mahler foi o maior regente de seu tempo e sabia o que estava fazendo. A “Ressurreição” é obra cheia de surpresas e que não hesita em utilizar alguns recursos pouco convencionais. Há, por exemplo, grupos de instrumentos que tocam fora do palco. Explico o motivo: os dois últimos movimentos da sinfonia propõem-se a fazer uma representação exterior (se bem que, como Mahler dizia, tudo era representação interior…) de nada menos que o Dia do Juízo Final e da Ressurreição dos mortos. Para tanto, o autor manda alguns instrumentistas (trompetes, trompas, percussão) para fora do palco e de lá, dos bastidores, eles iniciam um conflito fantasmagórico com a orquestra que está no palco. Quando a orquestra do palco executa o suave tema da redenção, de fora vem o som das trompas e da percussão executando o que Mahler dizia representar “as vozes daqueles que clamam inutilmente no deserto”. Depois começa a marcha dos ressucitados no Juízo Final. Em meio a este tema, as trompas e os trompetes que estão lá atrás nos bastidores - representando agora a enorme multidão de almas penadas -, enchem o ar com seus apelos vindos de todos os lados do palco.
Todo este aparato propõe-se simplesmente a responder à pergunta: “Por que se vive?”.
Abaixo segue o vídeo do trecho final de uma das mais belas interpretações desta sinfonia,executada de forma impecável ,sob a regência de Myung-Whun Chung.Perfeita,na minha opinião pessoal.
As vozes,a orquestra...tudo está possível de se ouvir*.
Espero que todos apreciem!!!
Beijos a todos,
Mateus Dossin (Bambino)
Aufersteh'n
(Original:Alemão)
- Aufersteh'n, ja aufersteh'n
- Wirst du, Mein Staub,
- Nach kurzer Ruh'!
- Unsterblich Leben! Unsterblich Leben
- wird der dich rief dir geben!
- Wieder aufzublüh'n wirst du gesät!
- Der Herr der Ernte geht
- und sammelt Garben
- uns ein, die starben!
- O glaube, mein Herz, o glaube:
- Es geht dir nichts verloren!
- Dein ist, ja dein, was du gesehnt!
- Dein, was du geliebt,
- Was du gestritten!
- O glaube
- Du wardst nicht umsonst geboren!
- Hast nicht umsonst gelebt, gelitten!
- Was entstanden ist
- Das muß vergehen!
- Was vergangen, auferstehen!
- Hör' auf zu beben!
- Bereite dich zu leben!
- O Schmerz! Du Alldurchdringer!
- Dir bin ich entrungen!
- O Tod! Du Allbezwinger!
- Nun bist du bezwungen!
- Mit Flügeln, die ich mir errungen,
- In heißem Liebesstreben,
- Werd'ich entschweben
- Zum Licht, zu dem kein Aug'gedrungen!
- Mit Flügeln, die ich mir errungen
- Werde ich entschweben.
- Sterben werd'ich, um zu leben!
- Aufersteh'n, ja aufersteh'n
- wirst du, mein Herz, in einem Nu!
- Was du geschlagen
- zu Gott wird es dich tragen!